Pequenos apontamentos sobre o Sínodo e sobre a Igreja que se quer sinodal
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26.10.2023
A experiência da escuta
Ao reler a Carta ao Povo de Deus assim como muito do que foi “transpirando” desta assembleia sinodal a trabalhar “à porta fechada”, isto é, sem o acompanhamento de jornalistas ou observadores, parece-me poder concluir-se que estas três semanas constituiram para os seus participantes uma profunda experiência de escuta. Escuta do Espírito e do “que Ele diz às Igrejas” (uma expressão bíblica constantemente citada do livro do Apocalipse 3,22 ), escuta uns dos outros, no reconhecimento da igual dignidade de todos, escuta dos sinais dos tempos e das exigências que eles fazem à Igreja.
É o que se pode deduzir de afirmações como estas da Carta ao Povo de Deus (assinaladas por mim a negrão):
“A convite do Santo Padre, demos um importante espaço ao silêncio para favorecer entre nós a escuta respeitosa e o desejo de comunhão no Espírito.”
“Para progredir no seu discernimento, a Igreja precisa absolutamente de escutar todos, a começar pelos mais pobres. Isto exige, de sua parte, um caminho de conversão, que é também um caminho de louvor.”
“Acima de tudo, a Igreja do nosso tempo tem o dever de escutar, em espírito de conversão, aqueles que foram vítimas de abusos cometidos por membros do corpo eclesial e de se empenhar concreta e estruturalmente para que isso não volte a acontecer.”
“A Igreja precisa de escutar os leigos, mulheres e homens, todos chamados à santidade em virtude da sua vocação batismal”
“Precisa ainda de estar atenta a todos aqueles que não partilham a sua fé, mas que procuram a verdade e nos quais o Espírito, que „a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal por um modo só de Deus conhecido“ (Gaudium et spes 22), também está presente e atua.”
Que acrescentar?! Nada mais senão e apenas o voto de que esta atitude de atenção e escuta se “estabeleça” na Igreja como “standard”, como modo “normal” de ser Igreja, e comprometa a todos, a começar por aqueles que até agora estavam habituados a fazer o que “achavam” melhor. Às vezes até ouvem, mas não escutam. Ouvem e depois fazem o que querem. As críticas do Papa ao clericalismo – que ontem mais uma vez pronunciou de forma tão clara – têm a ver com essa aitude de arrogância, de pensar que nada se tem a escutar, porque os outros nada têm a dizer.